domingo, 22 de abril de 2012


Vou deixar aqui um excerto de um livro que li há tempos.

A minha dor tem o teu nome de Hanife Gashi - aconselho a leitura!

Discurso de Hanife Gashi na manifestação em memória de Ulerika, a 22 de Novembro de 2003
Amamos a vida em liberdade e sem violência
Porque não podemos viver a nossa vida em liberdade? Porque devemos murchar como flores sem água? Temos culpa de sermos mulheres, de a natureza nos ter dado a beleza das flores? Também queremos viver a vida em liberdade. Porque servimos apenas para constituir familia? Porque nos aprisionam? Porque nos fazem a vida num inferno? Porque nos queimam vivas? Porque nos tiram a nossa beleza, a nossa simpatia e a nossa alegria de viver?
 Tenho orgulho em ser mulher. Vocês, assassinos, que tiram a vida a raparigas, não sabem que não existe lugar para vocês neste mundo nem no outro?  Vocês, vampiros, não podem sugar o sangue das raparigas.
 Mas não pensem que as conseguem matar, elas apenas se transformam em anjos. Observam-nos do Céu e rezam pela liberdade das mulheres que sofrem. É com muito orgulho que me dirijo a todas as mulheres e a todos os homens hoje aqui presentes, apesar de ainda não ter sarado a ferida no meu coração.
 Perdi a minha filha de dezasseis anos. Ela foi morta por um monstro que não conseguiu adaptar-se a uma nova vida e a um novo enquadramento. A Ulerika era minha filha e minha amiga. Apesar de ter vivido dezassete anos na escuridão das trevas, nunca perdi o meu orgulho de mulher. Sempre mantive a cabeça bem levantada, um sorriso no rosto, mesmo com o meu coração a sangrar.
 Ulerika, alma da tua mãe, a minha primeira flor a desabrochar, tornaste-te uma mártir pela nossa liberdade e talvez pela liberdade de muitas outras mulheres e familias que também vivem nas trevas. Espero que rezes no Céu e que tragas a liberdade a todas as mulheres que sofrem. Nós, mulheres, somos o mundo. Somos a água que apaga o fogo, somos a brisa que refresca a alma, somos o terreno onde as sementes são plantadas e somos as únicas a criar os nossos frutos.
 Peço-vos, caros ouvintes, que ajudem a parar finalmente a violência contra as mulheres! Apelo a todas as mulheres que são maltratadas para que não fiquem em silêncio. Têm de ser fortes e não deixar que destruam a vossa personalidade e beleza. Não podem murchar como flores sem água. Há-de chegar o dia em que os crimes desaparecerão para sempre. O principal é começarem a falar dos vossos problemas com as vossas amigas ou com as vossas professoras da escola, deixando de os esconder toda a vida, pois o vosso destino pode ser a morte.
 Desejo a liberdade para todas as mulheres, mas tenho uma mensagem especial para as raparigas jovens:  tomem a vossa vida nas vossas mãos, formem opiniões próprias. Não se arrependam dos erros do passado, sejam eles quais forem. Ninguém merece a pena de morte e muito menos da parte de um pai.
Agradeço-vos muito por me terem ouvido.”

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